domingo, 2 de janeiro de 2011

Tempo: fator essencial

Um dos grandes, se não o maior, diferencial dos cursos de tecnologia é a curta duração. Mas esse diferencial é ao mesmo tempo o céu e o inferno. É o céu porque muitos alunos escolhem essa graduação exatamente por poder entrar mais rápido no mercado, ao mesmo tempo muitas empresas (como as estatais, por exemplo) não confiam em contratar alguém que estudou com uma carga horária às vezes 50% menor que a dos cursos tradicionais.

À primeira vista pode parecer realmente que a diferença é muito grande e quem fez um tecnólogo sabe menos do que um bacharéu. Claudio de Moura Castro, colunista da revista Veja, em um artigo entitulado "Por que quatro anos?" faz esse mesmo questionamento e uma importante revelação: nos Estados Unidos e na Europa, há mais graduados de cursos de dois anos (ou menos) que de quatro anos. Argentina, Chile e Venezuela têm cerca de um terço de seus graduados em cursos curtos. É possível dizer que os estudantes desses países sabem menos que os brasileiros bacharéis? Não, é a minha resposta.

Se esses países tivessem um sistema educacional reconhecidamente fraco, economias definhantes e assim por diante, poderíamos afirmar que cursos de pouca duração não dão aos seus estudantes uma boa base. Mas isso não é verdade, muito pelo contrário. Recentemente no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ficou com uma das piores médias. Segundo o Portal da Clube o Brasil ficou atrás de países como Bulgária, Romênia e os latino-americanos México, Chile e Uruguai. Fica à frente apenas da Colômbia, Kazaquistão, Argentina, Tunísia, Azerbaijão, Indonésia, Albânia, Catar, Panamá, Peru e Quirguistão.

De todos os países que possuem cursos menores apenas a Argentina ficou atrás do Brasil, sem falar que pesos pesados e com educação de qualidade como EUA  e Europa têm mais cursos curtos que os tradicionais. Castro diz: "os cursos para tecnólogos e os seqüenciais estão sendo regulamentados em períodos de dois a três anos. Criou-se, portanto, uma escadinha natural, indo de cursos de um ano (os técnicos) ao outro extremo, de sete (medicina). Corresponde à idéia de que o pulo para o curso de quatro anos é uma descontinuidade artificial. Cada carreira requer certas competências, e o tempo que leva para adquiri-las não tem por que ser igual – muito menos quatro anos."

Ou seja, nem todas as competências precisam de quatro anos pra serem aprendidas. Eu já disse que faço Processos Gerenciais, o equivalente a administração, e acho minhas disciplinas (exceto por umas duas) perfeitamente "aprendíveis" em dois anos. Conheço diversas pessoas que já concluíram seus bacharelados e até hoje se perguntam porque fizeram determinadas matérias.

Catro continua, "na verdade, pesquisas feitas nos Estados Unidos mostraram que 20% dos novos empregos requerem ensino superior, embora a oferta de graduados seja de 28% para essa faixa. Em contraste, 65% das ocupações exigem cursos curtos, apesar de somente 32% dos estudantes chegarem ao mercado com essa formação. Em outras palavras, o mercado mais dinâmico é o das formações curtas, não o das tradicionais, de quatro anos. Não temos estudos similares no Brasil, mas aqui a situação deve ser parecida. Isso se deve ao crescimento explosivo das ocupações da informática, dos escritórios, da área de saúde, de serviços pessoais e da indústria do lazer, do turismo, da hospitalidade e da instalação e manutenção de miríades de equipamentos. Portanto, não se trata de menos anos para as velhas ocupações, mas de novas ocupações requerendo menos tempo de estudo".

Esse parágrafo fala mais do mesmo: tecnólogos são bons cursos quando ocupam alguma área ainda não preenchida pelas graduações tradicionais, nesses casos a empregabilidade é quase certa. "Não podemos nos esquecer das oportunidades que cursos curtos oferecem aos novos perfis de alunos que estão terminando o curso médio. Nos Estados Unidos, apesar de os Estados garantirem vaga em cursos superiores de quatro anos a todos os residentes, uma ampla maioria prefere a alternativa de dois anos. O mesmo acontece na França." Situação semelhante vêm acontecendo no Brasil, os alunos recém-saídos do ensino médio querem entrar logo no mercado de trabalho, seja por questões financeiras ou por simples falta de paciência pra ficar quatro longos anos estudando. Aqui, vale uma ressalva: se você estuda o que gosta vai querer ficar muito mais de quatro anos estudando. Sempre procure o curso que mais se assemelha com você, nunca opte apenas pela duração ou empregabilidade, a felicidade dentro do trabalho é que determina nosso sucesso.

E Castro finaliza seu artigo magistralmente: "Mas as conquistas não são tranqüilas e definitivas. Há ameaças de vários lados. Umas por conservadorismo, outras para preservar reservas de mercado. Algumas associações de classe tentam defender seus feudos no tapetão da lei. Outros sonham nostalgicamente com uma universidade de pesquisa para todos, como se em algum país fosse assim. Para esses, oferecer diplomas ao cabo de dois anos é abastardar o ensino superior, sacrilégio imperdoável. Em sua cabeça não entra a idéia de que superior é tudo que vem depois do médio, incluindo a preparação para muitas ocupações novas ou que se transformaram."

Leia o artigo completo no site da Veja: http://veja.abril.com.br/210802/ponto_de_vista.html

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